Mais uma contribuição de Decicote, que apesar de já ser "de casa", insiste em não postar ele mesmo... Um belo e lúcido texto, que deixo para a apreciação de vocês.
Assim eu vejo a vidaApesar das dezenas de artigos que cantam as glórias dos novos tempos em que mulheres conquistam seu lugar ao sol, creio que o termo reconquista seria bem mais condizente com a realidade. Desde o século XIX antropólogos e até um eminente teórico do socialismo moderno, acolheram as idéias de Darwin que defenderam a existência, num tempo remoto da humanidade, o sistema do matriarcado, uma organização social inteiramente dominada por mulheres. A hipótese matriarcal surgiu em 1861, quando o suíço Johann Bachofen sugeriu a existência de sociedades matriarcais na pré-história. Suas idéias influenciaram fortemente antropólogos e arqueólogos no final do século XIX e no começo do século XX. Em várias outras sociedades, como os celtas na Bretanha, a mulher tinha um papel fundamental, ela era muito valorizada e não existia qualquer tipo de preconceito.
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande
sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão
desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.Cora Coralina
A evolução da sociedade no formato atual se deu justamente por questões ligadas à economia; as mulheres dominavam a vida dos agrupamentos humanos no inicio da sociedade. Ela gerava filhos e era a principal provedora, pois era coletora. Enquanto os homens antigos podiam sair para caça e nada trazer durante dias, era a mulher que cuidava da alimentação de toda a tribo. Especula-se que foi dessa forma, trazendo grãos para a caverna, que foi descoberta a agricultura, pois os restos brotavam onde eram deixados. Observando isso passaram a fazer experiências. Também, certo ar de sagrado rondava as mulheres. Tudo na natureza o qual o ser humano reverenciava compunha-se de ciclos. O ciclo diário do nascer do sol, as estações, as estrelas no ceu que pareciam andar e voltar ao inicio após determinado tempo, e o misterioso ciclo da mulher. Também o sangue era sagrado por representar a vida, e ele estava presente nos ciclos mensais das mulheres. Nada mais natural que a mulher ser vista como um ser divino, ou com uma ligação especial com o divino e o espiritual, conforme escreve em “As Máscaras de Deus” o cientista Joseph Campbell. Nesta época o que existia era uma diferente dimensão do divino – que se configura, então, principalmente na concepção da Deusa-Mãe – estreitamente vinculada aos ritos do par dicotômico fecundidade-morte, para o homem algo divino e misterioso. De acordo com os modernos antropólogos, a disputa dos homens pela caça chegou ao estágio de conquistas e guerras. Como o homem passou a deter o poder econômico através das armas e da herança, as mulheres foram então, destronadas e toda uma ideologia machista passou a imperar como uma forma delas não voltarem ao poder.
De certa forma esse pensar perdurou até as grandes guerras, onde pela grande mortandade dos homens, a necessidade deles para bucha de canhã,o levou aos industriários a ideia de fazer as mulheres trabalharem, transformando isso em um esforço patriótico. Foi como uma volta ao passado, enquanto os homens brincavam de guerra, as mulheres voltaram a carregar o fardo do sustento. Ao fim das guerras, os homens voltavam para casa e encontravam uma mulher diferente. Muitos não gostavam. Mas os mais espertos perceberam como era bom ter um salário extra em casa e ainda as mulheres continuavam a cuidar da casa quando voltavam da jornada na fabrica, onde ganhavam menos e pegavam os trabalhos piores.
As mulheres começaram a ter consciência de seu valor e as grandes lutas femininas começaram, culminando no que a sociedade é hoje; ainda excessivamente machista, mas com bem mais chances das mulheres chegarem onde querem. Alias muita das grandes personalidades em todas as áreas do conhecimento humano são mulheres e dia virá em que elas não terão de se humilhar por salários menores para os mesmos cargos que os homens. Mas não é só no mundo do conhecimento e dos negócios que as mulheres tem mostrado sua força. Grandes partes das conquistas se devem as mulheres que foram para a política, como Hillary Clinton. Ela se destacou como senadora e ganhou vida política própria, sem depender do marido. Ainda nos Estados Unidos, temos Condoleezza Rice, que também se destacou. Na Alemanha Ângela Merkel foi a primeira a chefiar o governo do país. Na Libéria, Helen Sirleaf foi a primeira mulher eleita Presidente na África; formada em Administração na universidade de Harvard, foi diretora do Banco Mundial é chamada de “Dama de Ferro”. Tivemos também Margareth Thacher na Inglaterra e Ellen Gracie no Brasil e a Senadora Kátia Abreu..
Atualmente, o perfil das mulheres é muito diferente do apresentado no começo do século. Além de trabalhar e ocupar cargos de responsabilidade assim como os homens, ela ainda realiza as tarefas tradicionais como a de ser mãe, esposa e dona de casa. Trabalhar fora de casa é uma conquista relativamente recente para as mulheres. Ganhar seu próprio dinheiro, ser independente e ainda ter sua competência reconhecida é motivo de orgulho para todas. Porém, observa-se que elas já provaram que além de ótimas donas de casa, podem ser também boas motoristas, mecânicas, engenheiras, advogadas. Já está mais do que provado que as mulheres são perfeitamente capazes de cuidar de si, de conquistar aquilo que desejam e de provocar mudanças profundas no decorrer da história da humanidade. É a retomada de sua vida e história, a reconquista!!!
Deci, Sonia, não morro de inveja de ver esses belos textos publicados porque nós somos blogs co-irmãos, rsrs. Sinto-me orgulhosa por ter contato com cabeças tão privilegiadas.