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Pensamento do dia:

"Quem não te procura, não sente sua falta. Quem não sente sua falta, não te ama. O destino determina quem entra na sua vida, mas você decide quem fica nela. A verdade dói só uma vez. A mentira cada vez que você lembra. Então, valorize quem valoriza você e não trate como prioridade quem te trata como opção."

Só uma pequena história......

sábado, 26 de fevereiro de 2011


Está é só um pequena história, com um leve valor sentimental. Sempre escrevo, porém pouco publico. escrevo muitas "historinhas", que me servem como exercício de relaxamento e destravamento literário. Nascem e desenvolve-se quase que no piloto automático, feitas de um só folego, construídas através de vivencias e sentimentos. Os que me parecem filhos mais fortes deixo sair e enfrentar o mundo


Amanhece
O alvorecer tinge esparsas nuvens de vermelho sangue. Há uma luta entre as trevas noturnas e a luz que anuncia o novo dia. Por um mágico e assustador instante há a ilusão da luz fraquejar e o sol, cansado da contínua luta do dia após dia entrega-se, finalmente, lenta e va ga ro sa men te a escuridão. Tudo para! Não é noite. Não é dia ainda. Indefinido momento. Parecendo retomar forças, o sol então irrompe.Cascatas de luz empurram rios de trevas para longe e para frente. A luz, agora vencedora, reina mansamente banhando tudo ao seu alcance. Passou o instante, passou a magia.
O dia claro surge para as pessoas como apenas mais um dia. Inconscientes da feroz e titânica luta aquecem seus corpos e almas em xícaras, microondas e noticiários, tomando seu leite puro do campo da mais pura e bela caixinha. Leite ruim pra gente boa, leite bom pra gente ruim, todos insensíveis a morte do leiteiro que a própria caixinha matou.Crianças consomem preguiçosamente flocos de super-vitaminas artificialmente naturais com 11 minerais naturalmente criados pelo homem.
Não longe de suas casas outro drama tem inicio.
Em um dos inúmeros pontos da cidade, um amontoado de ilusões, sonhos e esperanças esperam.Logo será a vez deles, mesmo por pouco tempo, serem parte da realidade.
Pessoas chegam à larga rua. Conversam. Discutem amigavelmente. De forma não natural sorriem naturalmente. Esperam.
O coração acelera. Segundos antecedem o estampido seco em uma cadencia insana. Só em meio a tantos. Outras dezenas observam tudo em silencio. Imagens sucedessem com rapidez. Imagens nos olhos. Imagens na mente. Rua, rostos tensos, arma em punho, suor escorrendo, asfalto escuro, sol, água, camisas, costas, números fora de ordem. O tempo para. A vida para. O tempo passa. A vida passa. A tensão aumenta.Em poucos segundos o reboar do seco estampido transformará em movimento essa falsa inércia. Um estampido definindo a vida. Um novo começo. Ali, finalmente, todos são iguais. Homens - maquinas, super homens, homens comuns, lugar comum. Alguns fixam o chão tentando não pensar em nada.Alguns, o horizonte tentando pensar em tudo. Todos a espera de um tiro que lhes trará a vida, a emoção momentânea. A ilusão, a esperança que não abandona. Quixotes enfrentando seus moinhos de vento . O vento no rosto, a boca seca, o tiro. Eurípedes modernos em suas maratonas particulares. Vencendo a vida, vencendo a dor, vencendo o cansaço.
Ecoa o tiro.
Ecoa o BOOOOOOOmm momento da largada em uma explosão de músculos.
Uniformemente a massa humana avança com um só pensamento, um mesmo objetivo para todos, um só objetivo para cada corredor.Correr pra vencer. Vencer todos, vencer alguém, vencer a si mesmo. Vencer sentimentos, vencer a prestação atrasada, vencer a dor do abandono, vencer a tristeza da morte.. Vencer a perda, ser melhor, ser alguém.
O que era aparentemente compacto cinge-se em pequenos blocos. Avançam. Dividem-se ainda mais. Enquanto poucos seguem solitariamente juntos a frente dezenas vão bem atrás, não tristes, unidos. Se por um breve instante antes da partida tiveram a ilusão e esperanças da vitória estão felizes agora em poder participar e apenas terminar. Outros nem isso. Ficarão pelo caminho.
Os corredores seguem como o tempo em uma única direção e um único fim. Avançam. Correndo contra o cansaço, o desanimo e a sede. Tudo é simultâneo. A consciência de um outro ao lado já não o torna tão igual e o instante anteriormente tão largo e demorado cresce assustadoramente naquele pequeno grupo em que o levantar e descer de pernas segue a respiração ofegante do ritmos dos braços queimados de sol onde a face derrama o liquido salobro sobre a terra. No horizonte divisam a chegada. O ritmo cresce freneticamente como se a força não estivesse nas pessoas, mas sim naquele ponto, exercendo atração, puxando.
Perto demais do fim dois correm lado a lado. Outros três acompanham a menos de um passo, e não tão juntos, formam o desenho de uma pequena escada. O último degrau adianta-se, busca forças, destaca-se desfazendo a escada. Emparelha com os dois primeiros. Um deles força a marcha. O outro tenta responder, mas não consegue. Agora o atrevido degrau está entre os dois. Força ainda mais o ritmo. A imagem da chegada nos olhos. Imagens na mente. Pessoas, rostos tenso, suor abundante, o asfalto escuro, o sol, a água, camisas, pessoas, números em confusão, chegada, gritos, mais força, maior ritmo, gritos, grito, a dor, o chão se aproxima vertiginosamente dos olhos, a dor, o desespero, a dor, a derrota, o grito alucinante. O degrau desaba. Levado pela vontade, traído pelo corpo. Ícaro que ousou chegar perto demais do sol. Sob o peso da dor, ainda pode ver com a cabeça inclinada a passagem do vencedor pela chegada.
Quase inconsciente pela dor, é socorrido pelos espectadores. Recusa ajuda. Apóia-se nos braços, nas pernas doloridas. Rejeita o médico. Levanta os olhos, divisando o objetivo. Respira fundo. Passos vagarosos em uma lenta agonia. Sofrimento no rosto, misturado a expressão orgulhosa e teimosa. A multidão hipnotizada acompanha, sofrendo ela também. Orgulhosa ela também. Teimosa ela também. Deixa os vencedores sozinhos e vencidos na linha de chegada. Lá eles esperam para prestar homenagem a aquele homem, que já não vem mais sozinho. Filmado, fotografado, sua imagem corre rápido e com velocidade pelo mundo. Amanhã será manchete. Primeira página. Mas hoje mesmo terá sua vida esmiuçada, lenda criada, linhagem de semi-deuses eternizado no Olimpo do mundo digital. Depois, será convenientemente substituído, esquecido e abandonado.
Tudo terminado, tudo comentado, o dia retomará seu ritmo ao cair da tarde. Longe do drama as pessoas voltam para casa. Para seus televisores, suas xícaras, seus microondas. A eterna luta tem inicio, e a trevas lutam para engolfar mais uma vez a luz.....

A EVOLUÇÃO E ATUAL CONDIÇÃO DA MULHER

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011


Mais uma contribuição de Decicote, que apesar de já ser "de casa", insiste em não postar ele mesmo... Um belo e lúcido texto, que deixo para a apreciação de vocês.

Assim eu vejo a vida
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande
sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão
desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
Cora Coralina
Apesar das dezenas de artigos que cantam as glórias dos novos tempos em que mulheres conquistam seu lugar ao sol, creio que o termo reconquista seria bem mais condizente com a realidade. Desde o século XIX antropólogos e até um eminente teórico do socialismo moderno, acolheram as idéias de Darwin que defenderam a existência, num tempo remoto da humanidade, o sistema do matriarcado, uma organização social inteiramente dominada por mulheres. A hipótese matriarcal surgiu em 1861, quando o suíço Johann Bachofen sugeriu a existência de sociedades matriarcais na pré-história. Suas idéias influenciaram fortemente antropólogos e arqueólogos no final do século XIX e no começo do século XX. Em várias outras sociedades, como os celtas na Bretanha, a mulher tinha um papel fundamental, ela era muito valorizada e não existia qualquer tipo de preconceito.
A evolução da sociedade no formato atual se deu justamente por questões ligadas à economia; as mulheres dominavam a vida dos agrupamentos humanos no inicio da sociedade. Ela gerava filhos e era a principal provedora, pois era coletora. Enquanto os homens antigos podiam sair para caça e nada trazer durante dias, era a mulher que cuidava da alimentação de toda a tribo. Especula-se que foi dessa forma, trazendo grãos para a caverna, que foi descoberta a agricultura, pois os restos brotavam onde eram deixados. Observando isso passaram a fazer experiências. Também, certo ar de sagrado rondava as mulheres. Tudo na natureza o qual o ser humano reverenciava compunha-se de ciclos. O ciclo diário do nascer do sol, as estações, as estrelas no ceu que pareciam andar e voltar ao inicio após determinado tempo, e o misterioso ciclo da mulher. Também o sangue era sagrado por representar a vida, e ele estava presente nos ciclos mensais das mulheres. Nada mais natural que a mulher ser vista como um ser divino, ou com uma ligação especial com o divino e o espiritual, conforme escreve em “As Máscaras de Deus” o cientista Joseph Campbell. Nesta época o que existia era uma diferente dimensão do divino – que se configura, então, principalmente na concepção da Deusa-Mãe – estreitamente vinculada aos ritos do par dicotômico fecundidade-morte, para o homem algo divino e misterioso. De acordo com os modernos antropólogos, a disputa dos homens pela caça chegou ao estágio de conquistas e guerras. Como o homem passou a deter o poder econômico através das armas e da herança, as mulheres foram então, destronadas e toda uma ideologia machista passou a imperar como uma forma delas não voltarem ao poder.

De certa forma esse pensar perdurou até as grandes guerras, onde pela grande mortandade dos homens, a necessidade deles para bucha de canhã,o levou aos industriários a ideia de fazer as mulheres trabalharem, transformando isso em um esforço patriótico. Foi como uma volta ao passado, enquanto os homens brincavam de guerra, as mulheres voltaram a carregar o fardo do sustento. Ao fim das guerras, os homens voltavam para casa e encontravam uma mulher diferente. Muitos não gostavam. Mas os mais espertos perceberam como era bom ter um salário extra em casa e ainda as mulheres continuavam a cuidar da casa quando voltavam da jornada na fabrica, onde ganhavam menos e pegavam os trabalhos piores.

As mulheres começaram a ter consciência de seu valor e as grandes lutas femininas começaram, culminando no que a sociedade é hoje; ainda excessivamente machista, mas com bem mais chances das mulheres chegarem onde querem. Alias muita das grandes personalidades em todas as áreas do conhecimento humano são mulheres e dia virá em que elas não terão de se humilhar por salários menores para os mesmos cargos que os homens. Mas não é só no mundo do conhecimento e dos negócios que as mulheres tem mostrado sua força. Grandes partes das conquistas se devem as mulheres que foram para a política, como Hillary Clinton. Ela se destacou como senadora e ganhou vida política própria, sem depender do marido. Ainda nos Estados Unidos, temos Condoleezza Rice, que também se destacou. Na Alemanha Ângela Merkel foi a primeira a chefiar o governo do país. Na Libéria, Helen Sirleaf foi a primeira mulher eleita Presidente na África; formada em Administração na universidade de Harvard, foi diretora do Banco Mundial é chamada de “Dama de Ferro”. Tivemos também Margareth Thacher na Inglaterra e Ellen Gracie no Brasil e a Senadora Kátia Abreu..

Atualmente, o perfil das mulheres é muito diferente do apresentado no começo do século. Além de trabalhar e ocupar cargos de responsabilidade assim como os homens, ela ainda realiza as tarefas tradicionais como a de ser mãe, esposa e dona de casa. Trabalhar fora de casa é uma conquista relativamente recente para as mulheres. Ganhar seu próprio dinheiro, ser independente e ainda ter sua competência reconhecida é motivo de orgulho para todas. Porém, observa-se que elas já provaram que além de ótimas donas de casa, podem ser também boas motoristas, mecânicas, engenheiras, advogadas. Já está mais do que provado que as mulheres são perfeitamente capazes de cuidar de si, de conquistar aquilo que desejam e de provocar mudanças profundas no decorrer da história da humanidade. É a retomada de sua vida e história, a reconquista!!!

Libertas Quae Sera Tamen

domingo, 20 de fevereiro de 2011


Desde os primórdios da evolução, o ser humano busca e anseia por liberdade. E liberdade, hoje em dia, tornou-se uma palavra desgastada e explorada em todos os seus limites e sentidos possíveis.
Mas o que nos faz livres, realmente?

Na mídia, a liberdade é explorada como expressão de consumo, encaixando-se na cultura de massa. Então, nos deparamos com a liberdade do cartão de crédito, que permite consumir um produto que está na moda, ou simplesmente, a liberdade de obter realizações pessoais, materiais e de status, porque na ideologia burguesa a liberdade “cabe no seu bolso”. Somos educados para acreditar que a liberdade está associada ao dinheiro e dele depende.
Essa “liberdade” faz parte de uma realidade fantástica, alimentada pela sociedade capitalista. O mercado direciona o consumo e o determina, com algumas variações de gostos, padrões, tipos. Dessa forma, existe um consumo massificado, mascarado por um discurso individualista, que faz com que as pessoas se sintam diferentes, consumindo o mesmo que todos os outros e se considerem absolutamente livres em suas escolhas individuais. Um condicionamento patético da sociedade burguesa, que educa o indivíduo, que nasce essencialmente diferente, a seguir estereótipos e se projetarem símbolos, tornando-o o verdadeiro “produto”, que é moldado e trabalhado para consumir dentro dos segmentos da produção industrial e do varejo, de acordo com as tendências exploradas pela mídia.

Na verdade, a “liberdade”de consumo é uma grande farsa, que alimenta a desigualdade. É a liberdade individual e egoísta daqueles que podem satisfazer seus desejos sem se importar se os outros podem fazer o mesmo. Essa lógica de raciocínio pressupõe não só desigualdade, mas a exploração, sendo que existe apenas a “liberdade” de alguns, em detrimento de outros. E, num sistema de exploração, domínio, escravidão e desigualdade, não pode haver liberdade de qualquer indivíduo que seja. Existe apenas a ilusão da “livre escolha” dentro de modelos predeterminados e estabelecidos, que seguem uma rotina de exclusão social.

Da mesma forma que a liberdade de consumo, a liberdade liberal burguesa também se mostra como um embuste. Nos leva a crer que somos livres ao exercermos a chamada “cidadania”. Mas o que é a cidadania, senão um jargão da esquerda em que o indivíduo para ser cidadão deve se tornar uma engrenagem da “máquina social”? O estado e suas instituições cuidam do “social”, enquanto ao povo, cabe apenas trabalhar e saber em que ocasiões e onde, ele deve e pode opinar.
Sob este aspecto, ser livre é ter o direito de ser uma peça útil para a grande engrenagem do capital, enquanto a economia, a justiça, os serviços sociais e a moral são regulamentados e controlados pelo estado. Então, na visão liberal burguesa, somos cidadãos e “livres”, na medida em que produzimos, consumimos e obedecemos às leis do estado.

“(...)A liberdade política significa que a “polis”, o Estado são livres; a liberdade religiosa, que a religião é livre; a liberdade de consciência, que a consciência é livre e não que eu seja livre do Estado, da religião e da consciência, ou que eu tenha me livrado disso tudo. Não se trata de minha liberdade, mas daquela de uma potência que me domina e me subjuga: um de meus tiranos – o Estado, a religião, a consciência – é livre, um desses tiranos que fazem de mim seu escravo, de tal modo que sua liberdade é minha escravidão.” (Stirner, Max Stirner e o Anarco Individualismo, pg 50)

No liberalismo, limita-se a liberdade à do outro indivíduo, como se fosse uma propriedade privada. Toda responsabilidade de julgamento e determinação, cabe ao estado, que afasta, assim, a responsabilidade de decisões das pessoas. Cada indivíduo deve apenas desempenhar seu papel como cidadão, o que não inclui a liberdade de decisão sobre o seu destino.

Podemos concluir, então, que na democracia liberal burguesa, a chamada "limitação da liberdade" nada mais é do que a ausência da mesma. Nós, brasileiros, nascemos dentro desse sistema ee nele fomos criados. Qualquer um que ouse renunciá-lo, sofre todo tipo de perseguição, repressão e difamação pelo estado para que não se torne um exemplo. É um grande risco para quem quer manter um sistema e uma estrutura social por imposição, que surjam elementos contestatórios de sua veracidade e funcionabilidade.

A liberdade pura não se limita e nem se vincula a modelos e sistemas. É a busca de quem quer ouvir e ser ouvido, de decidir e ter responsabilidade sobre o que decide, de criar e viver conforme princípios estipulados coletivamente, sem imposições ou dominação sobre o outro. Ser livre é estarmos conscientes de tudo que fazemos e das consequências que incidem sobre a sociedade. Ser livre é não necessitar de líderes, porque cada indivíduo é suficientemente responsável para ser o seu próprio líder.

“A liberdade é o direito absoluto de todo homem ou mulher maiores de só procurar na própria consciência e na própria razão as sanções para seus atos, de determiná-los apenas por sua própria vontade e de, em conseqüência, serem responsáveis primeiramente perante si mesmos, depois, perante a sociedade da qual fazem parte, com a condição de que consintam livremente dela fazerem parte.” (Bakunin, Textos Anarquistas, pg.74).

Reflexões sobre o Civismo, os brasileiros e os brasilienses. (Parte I)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011


- Este texto me foi enviado pelo amigo Decicote, e eu achei tão incrível e completo em seu embasamento histórico e suas argumentações que achei digno de compartilhar com vocês. Espero que o apreciem tanto quanto eu. -

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"A vida nos faz surpresa agradáveis de vez em quando, apesar da minha fé quase cega de que, sendo a lei de Murphy mais definitiva e atuante que a lei da gravitação Universal de Newton, qualquer surpresa agradável detonará forças e processos que levarão a algum tipo de hematoma. Desta vez não foi o caso.
O citado texto aborda reflexões da querida amiga sobre quando nós, brasileiros, perdemos o sentido de orgulho Nacional, o sentimento de identidade Nacional e o apego pela liberdade. Questões por demasiado complexas. Porém, corajosamente a autora não se sentiu intimidada. Para ela foi o silêncio quase cúmplice dos brasileiros em meio a desastres, inflação, roubos,etc, que detonou processos que a levaram a raciocinar o porquê. No meu caso, mais fortuito, foi o próprio texto dela que me fez pensar onde e se, realmente, como nação, tivemos em algum momento histórico esse tipo de sentimento, de orgulho.
Diferentemente de todas as outras nações somos o único país que se inicia no descobrimento, do zero absoluto, diversamente de todos outros povos civilizados. Não há nada em nosso imaginário anterior a 1500, quando Cabral aporta em uma terra ainda a espera de um nome. Fomos “descobertos” pelo olhar europeu, já participando, mesmo não sabendo, da tradição europeia. Há sempre relatos nas cartas de viagem da época, nossa primeira forma de literatura, de índios que tocavam flautas como o Deus pã, comparando Pajés a “profetas” segundo Thevet (cosmografia universal, 1, vi, 5, f.163) que também imagina reconhecível o curso idêntico do Amazonas ao Ganges. Enfim, ideias e frases povoando o mundo recém-descoberto com as tradições mais antigas do ocidente. O olhar europeu foi o que nos definiu, nos classificou, rotulou e dispôs em prateleiras, atitude normal de quem quer entender a cultura dos outros pela própria, ( típica de conquistadores). Sequer sabemos de forma definitiva a origem de nosso nome, alias o terceiro depois de Ilha de Santa Cruz, pois ainda se desconhecia a extensão e depois Terra de Vera Cruz, para honrar Camões em Os Lusíadas; ”de santa cruz o nome lhe poreis”. Por isso parece pouco provável que o nome tenha vindo da madeira. Antes a madeira “cor de brasa” deve ter servido como um reforço posterior. Com efeito vários mapas bem antigos, anteriores as descobertas das Américas falavam de uma terra brasil, um tipo de paraíso da abundancia. A defasagem e o acerto de contas com nosso passado aumenta a medida que caminhamos, basta comparar com a defasagem entre os brasileiros e seus Hermanos latino Americanos sobre o conhecimento de suas raízes anteriores à colonização, ou melhor, à “descoberta”. Fazem parte do orgulho nacional as tradições culturais pré-colombianas, o culto as tradições indígenas, a redescoberta cultural de aztecas, maias, e ao mesmo tempo, a convivência com as tradições judaico-cristãs europeias e a institucionalização do modelo europeu educacional modificado conforme a necessidade de cada pais e cada povo. Fazem parte desses povos o culto aos levantes, a transformação em tradição de fatos que compuseram o mosaico da vida nacional, os acontecimentos que marcaram a libertação colonial . Aqui, são apenas relatados, a cada levante segundo a região em que aconteceram, e é somente nestes lugares é que fatos, decisivos para a construção nacional de nossa desaparecida identidade são cultuados. Ao invés de estudados pelos alunos do curso médio, a revolução farroupilha, a inconfidência mineira e todas as outras formas de lutas contestatórias são estudadas de forma rápida, sem aprofundamento, sem mostrar realmente a importância na formação Nacional.

As diferenças da colonização.

As formas de colonização tem influência determinante na formação de caráter nacional e no Nacionalismo, para o bem ou para o mal. Será também determinante na falta do mesmo? Um pais assim construído é possível? Robson Crusóe, quando naufraga definitivamente em “sua ilha” (era seu segundo naufrágio) , constrói um pequena “Inglaterra”. Tendo conseguido salvar as ferramentas, armas, bíblia e papel e também caneta, tomou posse assim daquele pedaço de terra transformando-lo de imediato em uma imagem de menores proporções da civilização, ou o que ele conhecia como tal. Levantou sua casa, construiu moveis, e até o sobre primeiro ser humano que conheceu, exerceu de certa forma a licença que foi dada por deus aos homens; o de nomear seus domínios e os animais inferiores. Assim, em uma sexta feira, Robinson exercendo seu poder civilizatório, dado por deus, batiza o novo amigo de sexta feria. A colonização espanhola nas américas foi deste modo também; apressou-se em construir centros populacionais no modelo europeu, construindo e moldando a urbe, transformando na extensão do poder sagrado do monarca, subjugando com mão de ferro aos povos, destruindo sua unidade ao impor a mentalidade severa católico/cristã. Já os portugueses demoraram a se estabelecer nas terras recém encontradas. Primeiro tinham a sanha devoradora/parasitária/extrativista. Vinha ao brasil, trocavam mercadorias pelo trabalho dos índios de recolher a maior quantidade possível do pau brasil, recolhiam vivéres, animais exóticos, praticavam sexo de forma tão desinibida quanto os nativos (o que pós em contato os índios com as doeças europeias, como a sífilis, gonorreia, etc, etc. a falta de imunidade vitimou milhares) e embarcavam às vezes índios, então “consumidos” com avidez pela corte europeia. Mesmo após estabelecer alguns pequenos núcleos de colonização, sequer tentaram impor de forma violenta a língua, normalmente o primeiro passo de todos conquistadores; a língua é portadora da formação cultural, e arma de conquista para subjugar o mais fraco. Por está época tiveram grande importância na colonização os órfãos, chamados de crianças língua; eles eram introduzidos no Brasil, aprendiam os costumes e a língua indígenas e assim contribuíam na comunicação entre o português europeu e a população nativa. Houve nos primórdios da colonização o que se costuma chamar de língua geral, com alguns traços da portuguesas e grande parte das principais línguas indigenas. Ao contrário dos espanhóis, pareciam que os portugueses que aqui vinham, o faziam apenas “de passagem”, como um trabalho a qual lhes obrigada de vez em quando ausentar-se da família e dos luxos da vida moderna europeia. Mesmo então parece que este costume permaneceu entranhado em nosso inconsciente coletivo e que estamos aqui no Brasil apenas de passagem, sem amar a terra e fixar raízes. Interessante é este fragmento de um texto da Revista da USP, do qual tirei muitas das idéias ;
“Parece mais significativa a ironia com que nos presenteou a nossa história em relação ao termo que nos identifica como povo. Estranhamente, não se trata de um adjetivo pátrio, à diferença do que ocorre em outras línguas que não nos chamam com a tal desprimorosa designação profissional. De fato, o sufixo “eiro” que ele porta designa na verdade o sujeito que exerce oficio conhecido. Portanto, em bom português, ser brasileiro é como ser pedreiro, porteiro, sapateiro, bodegueiro; um meio de vida. E até concordaremos que isso se dá frequentemente entre nós. Nas suas origens coloniais, brasileiros eram os marinheiros, os portugueses que vinham “fazer o brasil”, explorar a madeira e os produtos da terra, enriquecer e retornar para a metrópole; “Vá degradado para o brasil, donde tornará rico e honrado”. Dizia fri Vicente do salvador, em 1618. Portugal reservou o termo e o estendeu aos que aqui permaneceram e aos seus descendente. Aceitamos essa impostura passivamente. E permanecemos brasil eirós até hoje. Parece indubitável que isso não se deu sem graves consequências em nosso inconsciente coletivo. Analogamente a outras profissões, brasileiro é assim aquele que vive de explorar o brasil e a sua gente. Essa generalização aprece eticamente espúria. Mas podemos reserva-la como injúria para aquela minoria de donos do poder que efetivamente exercem o ofício habitual de explorar os demais; a imensa a maioria desse pais. Para essa gente imaginemos o verdadeiro adjetivo pátrio, que bem poderia ser brasiliense ou brasilense.....”
EDUARDO DIATAHY B. DE MENEZES. – Professor titular do DFCS/UFC em 1991 – Revista USP nº 12 - Dossie 500 anos da América Pags 79/80.

Desde os primórdios não tínhamos consciência da Pátria brasilense, no sentido que tem a palavra, derivada de um vocábulo latino pater, pai, e patris, terra paterna. Assim colocada, parece que sim, sempre tivemos essa relação; sempre ansiamos por uma pátria/pai, cuja proteção, justeza e bondade fariam dos brasileiros seres abençoados e felizes. Na verdade, nessa aspiração seria necessário usar o termo genitor. Páter, no antigo direito romano, era uma figura jurídica, senhor chefe e com o domínio sobre as propriedade, dos animais, casas ou outras construções. Pai era o donoda patris, do Patrimonium, cujo poder era exercido a partir da residência, ou casa, em latim Domus, formando o Dominium, incluindo também todos que estivessem sob seu poder “patriarcal”, ou pátrio poder” para referir-se ao seu poder legal sobre a família, servos, parentes pobres. Nossa pátria, ou pelo menos a pátria física e espiritual dos nossos primórdios era Portugal. A palavra que definia então o status brasileiro era nação, mas não nação no sentido moderno antropológico, sendo sinônimo de povo ou etnia em sua acepção política, com a constituição do Estado-nação a partir da independência dos Estados Unidos e da Revolução Francesa, entendido como estado-nação em todas as suas implicações. Nação vem nascor, (nascer) derivando o substantivo natio, ou nação, parto da mesma ninhada e após a fixação do poder da igreja passou a ser usada no plural nationes(nações). Assim era referido aos pagão, o que os distinguia do “povo”, que logicamente era o povo de deus, o populus dei. Nação significava então apenas a descendência comum, e por exemplo, os judeus, eram chamados de homens da nação, assim como os índios e outros povos como os africanos a quem os colonizadores não reconhecia com direitos políticos jurídicos, que definia o conceito de povo (imaginem só, povo já foi mais importante que nação, hehe).
Desde Sempre mal amados, a nação do brasilenses estavam sempre a mercê do brasil-eiros, que também trouxeram para cá uma parte importante do que hoje constitui o brasil: Os negros. Diz Gilberto Freyre que o; “escravocrata terrível que só faltou transportar da África para a américa, em navios imundos, os quais de longe se adivinhava pela inhaca, a população inteira de negros...” Retirados a força de sua nação, vieram substituir a mão de obra indígena que ofereceu oposição passiva (mas nem sempre) contra a escravidão; eles estavam em suas terra, e apenas se embrenhavam mais e mais para longe dos colonizadores. Os então colonizadores portugueses não conseguiam compreender a ingratidão da “nação indígena”. Tão indignos eram, segundo os cronistas religiosos da época, que não possuíam as letras F, L, e R- o que significava que que não possuíam nem Fé, nem Lei , nem Rei".

Continua............

Civismo: sentimento e atitude

domingo, 13 de fevereiro de 2011


Com o perdão da má figura de linguagem, o silêncio de nosso povo tem ferido, constantemente, meus ouvidos. Isso gera um questionamento sobre coisas que andam me incomodando. Tenho me perguntado, com certa freqüência, em que ponto da história o brio dos brasileiros se perdeu? O orgulho nacionalista e a sensação de liberdade de idéias e atos...isso foi perdido ou apenas adormecido? Num sono profundo, alimentado por silêncios, omissões, anuências e, por fim, submissão.

É sabido que o povo brasileiro nunca foi passivo. Temos exemplos de grandes revoltas ao longo da história. Há fatos que não ficam nada a dever em grandeza, demostração de orgulho, coragem e patriotismo (e até loucuras e audácias beirando o épico) a qualquer outra nação. Como um povo, capaz de escrever os capitulos grandiosos e sangrentos da Revolução Farroupilha, a triste grandeza da traição e solitária morte de nosso mártir maior, Tiradentes, um dos lideres da inconfidência mineira, o messianismo popular da guerra dos Canudos, as revoltas pela independência em Pernambuco, Pará e Bahia que culminaram com a independência do Brasil, enfim, são tantos exemplos.... Então, por que num momento em que nos vemos extorquidos por impostos abusivos e não explicados, vítimas do descaso pela dor comum das grandes tragédias e, ainda, cerceados no nosso direito fundamental, que é a liberdade, o silêncio ainda persiste? Uma indagação que fica no ar e se torna inquietantemente pesada.

Ouso teorizar a respeito, lembrando do período de ditadura militar, onde as vozes foram caladas pela força e a opressão dos grilhões da censura. Ainda assim, havia nos olhos e nas atitudes, um respeito pelos símbolos e uma noção, mesmo que básica, de civismo.
Após 24 anos de governo, os militares iniciaram o que se chamou de “abertura política”: um processo a médio prazo, que incluiu a anistia de exilados políticos e a criação de múltiplos partidos de oposição, a maioria com tendências esquerdistas.
Enfim, quando a ditadura militar chegou ao seu final, houve um processo de negação de tudo que pudesse lembrá-la, pois o que se queria era respirar a liberdade. Liberdade de ter novamente um governo civil e, de voltar a escolher, diretamente, pelo voto, os governantes.

Mas, tudo sempre tem dois lados. Apesar de não ser bom nenhum tipo de governo imposto pela força, o ensino do civismo que havia nas escolas era uma coisa positiva, mas foi abolido de forma veemente por remeter direto à lembrança do governo militar. Em contraponto, a liberdade era a palavra de ordem. Depois de tantos anos de censura, era compreensível. Mas, erroneamente, o conceito de país livre, povo livre, passou a ser associado aos movimentos esquerdistas. Tudo que se opunha ao regime ditatorial era moderno e revolucionário.
Todo extremo, toda situação limite, passa a ser algo preocupante e perigoso. Associar liberdade a governos esquerdistas é um extremo. Toda esquerda é totalitária e radical e não menos opressiva que uma ditadura militar direitista.

Nos vemos, hoje, em um governo pseudotrabalhista, onde as elites se beneficiam, a corrupção corre solta e a imunidade parlamentar e a impunidade são estrelas de escândalos e CPI’s sem fim...
E, onde está aquele herói revolucionário, disposto a tudo pela liberdade e a justiça para o seu país e seu povo?
Acredito que ele está dentro de cada um de nós, que não nos conformamos com os desmandos e o descaso a que somos submetidos.
É preciso união e organização de idéias semelhantes por um bem, um objetivo comum. Unidos e bem fundamentados podemos mudar as regras desse jogo. A força está no povo. Nós temos o poder.


**Agradeço a colaboração e o apoio inestimáveis do amigo Decicote, sem os quais, esse texto não teria sido produzido.

Microconto

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011


É noite...Já bem tarde. As ruas da pequena cidadezinha estão mergulhadas na escuridão. E, numa determinada esquina, uma sombra se esgueira, furtivamente. Olhos inquietos, soturnos, sedentos de algum movimento.

Na outra ponta da rua, surge a menina. Medrosa, olhos arregalados, pupilas dilatadas, apertando contra o peito os livros escolares e assustando-se com as batidas do próprio coração. Ela segue a passos largos e rápidos. A batida do salto do sapato na calçada ecoa como se obedecesse a um ritmo ritual.

O ser sombrio aperta os olhos para enxergar melhor a menina. Não se move. Apenas observa, atenta e fixamente.
A menina se aproxima cada vez mais, inquieta, com a sensação de estar sendo observada...olha em volta várias vezes e nada vê. E segue...
O ser sombrio se prepara para o ataque. Consegue, em segundos, calcular todos os movimentos possíveis da menina...tem a experiência de um velho caçador.

Atrás de uma árvore, ele a espera. E ela se aproxima. A tensão aumenta para ambos, porque ele está preparado para ataca-la e ela , por sua vez, pressente algo de estranho naquela noite, naquele lugar.
Chega o momento. A sombra projeta-se, enorme e assustadora, sobre a menina. Ouve-se um grito lancinante.

Sento-me, rapidamente na cama e acendo a luz do abajur. O quarto está igual ao que sempre foi...meus olhos assustados percorrem cada centímetro, enquanto o coração bate descompassado num misto de pavor, medo, impotência.... Foi um pesadelo. Bebo água, respiro fundo e procuro me acalmar.
Apago novamente a luz e deito. Aos poucos o sono volta.
Por trás da cortina, um par de olhos inquietos, sombrios, observa....